A conscientização sobre a importância de os profissionais se garantirem contra eventuais erros cresceu durante a pandemia, especialmente em setores mais afetados, como aviação, turismo, varejo não alimentício, mineração, óleo & gás, entre outros.
Conforme dados da Susep de maio de 2020, houve aumento no volume de prêmios de seguro do mercado de 12%, um total de R$ 159 milhões, se comparado ao mesmo período de 2019, quando foram registrados prêmios de R$ 142 milhões. Por outro lado, houve também um crescimento no volume de sinistros ocorridos no mercado, saindo de R$ 48 milhões em 2019 para R$ 61 milhões em 2020 no mesmo período.
O aumento da procura pelo seguro E&O ou RC Profissional está relacionado também ao momento desafiador, que traz mais riscos para as atividades desses profissionais que ficam mais pressionados no que tange à necessidade de readequação de suas capacidades de entrega. Além disso, há o aumento de reclamações de clientes quanto aos serviços ou possíveis erros que tenham percebido durante a execução ou após a conclusão dos serviços dos profissionais contratados. O E&O tem uma demanda maior justamente por pequenas e médias empresas de serviços, além dos próprios profissionais liberais atuando de forma independente, sem que tenham uma empresa própria ou a serviço de alguém.
“Temos visto um crescimento na procura do seguro E&O, pois ele visa a proteger as empresas prestadoras de serviços ou profissionais liberais em razão de danos que venham a causar a terceiros que estejam relacionados à prestação de seus serviços profissionais. Entre essas categorias profissionais, destacam-se: médicos, advogados, contadores, arquitetos, engenheiros, notários, entre outros”, afirma Fernando Saccon, superintendente de Linhas Financeiras e Seguro Garantia da Zurich no Brasil.
Ele ressalta que o seguro é uma ferramenta importante para gestão do risco e até mesmo sobrevivência de muitas empresas e profissionais como forma de mitigar os impactos por eventuais prejuízos que lhes sejam reclamados por terceiros, em razão de erros que possam cometer em função de sua atividade profissional.
Caroline Ayub, superintendente de Produtos Financeiros da Tokio Marine Seguros, lembra que o segmento já vinha apresentando crescimento médio de 15% ao ano, conforme dados da Susep. “Em 2015, o mercado de RC Profissional era de R$ 238 milhões, tendo encerrado 2019 com cerca de R$ 400 milhões em prêmios emitidos. É provável que até o fim de 2020 este valor chegue próximo a R$ 450 milhões. Isso quer dizer que o aumento da procura pelo seguro já vinha crescendo consideravelmente bem antes da pandemia, contudo, podemos afirmar que o cenário atual também contribuiu para potencializar possíveis situações de Responsabilidade Civil Profissional”, aponta, ao citar um exemplo prático: “Uma agência de viagens se vê obrigada a cancelar inúmeros pacotes turísticos, pois os voos foram cancelados e as fronteiras fechadas, mas não tem condições financeiras para reembolsar os viajantes, pois não há a entrada de caixa com a venda de novos pacotes”.
Emerson Bueno, diretor Comercial da Fator Seguradora, pondera que apesar do crescente cenário motivado por ações judiciais contra profissionais de atividades diversas, ainda existe um “otimismo” das pessoas em achar que nada de errado possa acontecer. “Qualquer pessoa que sai para trabalhar espera não errar, mas não imagina que erros de terceiros possam comprometer e colocar a perder a própria atividade”, diz.
Para ele, a cadeia de eventos que pode culminar num ato classificado como “erro médico”, por exemplo, é gigantesca. “Até que os fatos sejam apurados e a responsabilidade seja efetivamente comprovada, ter um Seguro de Responsabilidade Civil Profissional pode significar muito. Mas as pessoas ainda resistem sobre a ideia de que contratar um seguro é uma espécie de proteção de renda”, conta, ao explicar que a seguradora tem focado em comunicação para conscientização de profissionais sobre os riscos.
Segmento em alta
É de se esperar que os efeitos econômicos da pandemia de covid-19 tenham sido sentidos com mais intensidade pelas PME’s. Porém, os números da Susep demonstraram que a pandemia e a consequente desaceleração econômica não resultaram em queda na contratação do seguro. Pelo contrário, foi observada a continuidade do crescimento do segmento durante todo período. “Esperamos que a retomada do crescimento econômico contribua também para o crescimento do seguro, contratado tanto por PMEs, como por empresas de maior porte. Não há atividade profissional específica que deva estar na mira dos corretores, as empresas que prestam serviços profissionais nas mais variadas áreas são clientes em potencial”, diz Caroline.
As oportunidades para o corretor de seguros oferecer um seguro de Responsabilidade Civil Profissional para os pequenos e médios empreendedores são enormes. “Deveria fazer parte do plano de negócios de qualquer empresa a contratação desse seguro, ainda mais nas PME’s, pela vulnerabilidade econômica. Os prejuízos de uma possível ação podem não representar muito para uma grande empresa, mas ser fatais para outra de pequeno porte. E deveria fazer parte do plano de negócios de um corretor de seguros olhar para esse mercado”, provoca Emerson Bueno.
Todos os segmentos de atuação profissional têm possibilidade de ter a demanda aumentada. “À medida em que a economia reaquece, aumenta o volume de atividade dos profissionais, trazendo consigo também um aumento da exposição a risco. Importante fazer um contraponto: a redução de atividade não necessariamente reduz o risco, porque o profissional também pode estar pressionado em suas atividades por conta da falta de recursos financeiros, impactando prazo de entrega e qualidade dos serviços por exemplo”, diz Fernando Saccon.
Fonte: Revista Cobertura